A moral burguesa:
Um ilustre jurisconsulto, a proposito de uma coisa que a moral e os códigos burgueses chamam sacrilégio, publicou pelos jornais diversos artigos. Um deles merece reparos, porque em ligeiras palavras, é um resumo da moral burguesa, relativamente às desigualdades sociais.
Não acreditamos absolutamente no amontoado de mentiras e falsidades que compõem os dogmas da igreja católica e de outras religiões, mas como num artigo não podemos discutir e refutar as bases da fé católica, nos limitaremos a tirar das palavras do ilustre cidadão as conclusões lógicas, demonstrativas de que a religião dando braço à autoridade procurou, em todos os tempos, favorecer uma classe social diminutíssima, em prejuízo da humanidade.
Assim é que a religião, tal como a fizeram no correr dos séculos os hipócritas de batina branca, vermelha, roxa ou preta, não é mais que um manual de exploração para uso dos ricos. Jesus Cristo, o grande filosofo da Galiléia, propagou a igualdade e a fraternidade entre os homens; os padres e os livros da igreja católica pregam a humildade, isto é, querem que os oprimidos, na esperança de uma vida futura que não existe, que é contrária a materialidade absoluta do homem, curvem-se ante a prepotência dos ricos e dos poderosos da terra.
É esta a base da moral hipócrita da burguesia.
O artigo em questão é a apologia da caridade, da aviltante e humilhadora esmola.
Há famílias que morrem de fome, apesar de pais e filhos serem explorados doze horas nas fabricas insalubres.
Que aconselha, como remédio, a moral burguesa?
“Distribua-se esmolas, porque há abusos, mas em geral as esmolas são bem aplicadas”.
Pouco se importam os ricos, os exploradores do trabalho com as tristezas e os sofrimentos dos seus semelhantes, e a moral católico-burguesa nos diz:
“Ignoram os fartos as tristezas alheias porque não conhecem os caminhos de Deus … Todavia, a Providência Divina vela sobre os pobres e aflitos mediate o zelo das Associações de S. Vicente de Paulo.”
Os homens são maus maridos, maus pais, são devassos, são jogadores.
Que nos diz a respeito a moral burguesa-católica?
“E lembro ás mães de família, bem como as filhas, que são elas as principais responsáveis pelas desordens morais de seus maridos e pais.”
A panaceia, o remédio infalível para todos os males que afligem à humanidade, segundo a moral burguesa, é Deus, Deus no céu e os seus sacerdotes devassos aqui na terra, e segundo um padre que pregava outro dia na igreja do Rosário, o Elixir de Morato para essa sífilis moral é a reza do terço …
Resume-se nisto a moral burguesa, a moral do Estado e os padres, os burgueses e as autoridades se dão as mãos para torpemente explorar a humanidade em seu proveito.
Não querem ver os que assim procedem as verdadeiras causas das desigualdades sociais ou propositalmente as ocultam?
Qualquer que seja a resposta a nossa interrogação, ocorre-nos o dever, como comunistas libertários, de abrir os olhos da população, mostrar aos trabalhadores, a todos os oprimidos que as desigualdades sociais têm outra origem, e que outro é o meio de as combater.
A propriedade individual – eis o inimigo. O capital e a autoridade, ambos nefastos, ambos atrofiadores, são oriundos da existência daquela.
Portanto, proletários, os vossos esforços, devem ser empregados em combater tenazmente a propriedade individual, que é a causa remota de todos os vossos males, de todos os vossos sofrimentos, e, combatendo esse inimigo, não vos esqueçais que ele apoia no Estado, no Capital e na religião.
Não vedes como esta, como remédio aos vossos males, aconselha que vos humilheis aceitando ou pedindo a revoltante esmola do rico, quando deveria dizer ao rico que possuindo ele comete um crime e perpetua os males que afligem à humanidade?
A esmola, a caridade, eis os remédios prescritos pela moral burguesa!
Oprimidos, não aceiteis a esmola; proletários, combatei a caridade!
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