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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Nietzsche e o Ateísmo Militante


“Este livro se destina a pouquíssimos. Talvez ainda não viva nenhum deles.
Quem sabe sejam os que compreendem o meu Zaratustra:
como eu poderia me confundir com aqueles a quem já hoje se dá ouvidos?
_ Só o depois de amanhã me pertence. Alguns nascem póstumos.
As condições para me compreender, e então compreender necessariamente,
eu as conheço muito bem. É preciso ser íntegro até a dureza
nas questões do espírito para tão somente suportar
a minha seriedade, a minha paixão.
É preciso estar afeito à vida nas montanhas _ a ver abaixo de si
a deplorável tagarelice atual da política e do egoísmo dos povos.
É preciso ter se tornado indiferente, é preciso nunca perguntar
se a verdade é útil, se ela pode desgraçar alguém…
Uma predileção, própria da força, por perguntas
para as quais ninguém hoje tem coragem;
a coragem par ao proibido; a predestinação ao labirinto.
Uma experiência haurida de sete solidões.
Ouvidos novos para música nova. Olhos novos para o mais longínquo.
Uma consciência nova para verdades que até agora permaneceram mudas.
E a vontade de preticar a economia do grande estilo:
conservar a sua força, o seu entusiasmo…
o respeito por si mesmo; o amor a si mesmo;
a liberdade incondicional frente a si mesmo…
Pois bem! Apenas esses são os meus leitores, meus verdadeiros leitores,
meus leitores predestinados: que importa o resto?
_ O resto é apenas a humanidade.
_ É preciso ser superior à humanidade pela força, pela altura da alma
_ pelo desprezo…

Prólogo de “O Anticristo”
O jornalista britânico Christopher Hitchenssegment_8486_460x345, considerado um dos líderes do Ateísmo Militante, junto com Richard Dawkins, Daniel Dennett e outros cientistas e intelectuais.
Ao contrário dos ateus tradicionais, que se contentavam em ser ateus em silêncio e até mesmo escondiam seu ateísmo para melhor conviver com a sociedade religiosa, os  que classificados como "neo-ateus" por alguns fundamentalistas religiosos são aqueles que apenas proclamam abertamente seu ateísmo, como também combatem a ideia da existência de deus e a noção, baseada no senso comum, de que valores religiosos são sempre positivos.
Nietzsche pode ser considerado um precursor do Ateísmo Militate. De fato, muitos de seus argumentos estão diretamente relacionados com esta corrente. Questões como a inexistência da alma, a negação do Cristianismo como força positiva para a humanidade e o questionamento dos valores morais impostos pela religião estão presentes tanto em um discurso como no outro.
Just-before-the-second-airplane-crashes-to-the-World-Trade-Center-New-York-11-Sept-2001-2 Embora já existissem indícios de ateísmo e crítica da religião mesmo antes de Nietzsche, em escritos de pensadores como Voltaire, Ludwig Feuerbach, Karl Marx, Friedrich Engels e outros, foi só depois do atentado do World Trade Center, em 11/09/2001, que o movimento Ateísta encontrou condições objetivas e subjetivas para florescer de forma sistemática.
As condições subjetivas vem do questionamento das pessoas sobre o papel da religião no mundo. De que forma a religião pode ser considerada exclusivamente um fator positivo na sociedade, se ela é capaz de induzir atos tão violentos como o 11/09?
Apesar do caráter político daquele atentado, ficou claro para todos que foi a religião que forneceu o suporte psicológico necessário para os terroristas, com sua promessa de vida após a morte em um paraíso onde ficariam cercados de virgens. O terrorista político sem viés religioso não quer morrer, pois precisa viver para tomar o poder e implantar suas visões na sociedade.
Analisando a história, há momentos em que fica bem claro um caráter negativo da religião, como pode ser observado nas Cruzadas e na Inquisição. Nestas épocas, no entanto, não havia uma mídia poderosa como a contemporânea, de modo que as pessoas não ficavam sabendo exatamente o que acontecia e sim a versão oficial dada pela igreja.
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Desse modo fica fácil compreender quando Nietzsche faz sua crítica feroz ao Cristianismo, que pode ser estendida a outras religiões, já que todas elas fundamentam-se essencialmente nos mesmos pressupostos, a saber: a existência de um ou mais deuses; a existência de uma alma imortal nos seres humanos; em locais de recompensa e punição no pós-vida; no julgamento divino para saber em qual desses locais a alma ficaria; em uma moral absoluta que seria usada nesse julgamento; e, na intermediação de um corpo sacerdotal que interpretaria a vontade de deus ou dos deuses.
Para Nietzsche, o Ocidente, adotando a ética cristã, negou a vida real (material). Então, segundo ele, a doutrina judaico-cristã, com o conceito de “deus castigador”, moralista e juiz de homens como no “Antigo Testamento”, serviu apenas como um “cabresto”. Jesus, com ideias tais como “ressurreição” e “mundo melhor” após a morte, apenas contribuiu para que todos se penitenciassem para escapar do pecado original. Mas esse pecado é impossível para Nietzsche quando ele pressupõe que o homem não tem “alma” (no sentido de algo que sobrevive após a morte) e que “deus” não existe fora da mente humana.
O Ateísmo Militante representa em muitos aspectos uma retomada das posições filosóficas de Nietzsche, especialmente quando consideramos que ambos propõem medidas ativas para a extinção do Cristianismo e, por extensão, de todas as religiões. Há, entretanto, um ponto de forte divergência quando se trata da questão da moral.
Enquanto os militantes ateus  fundamentam-se em uma moral Humanista, com valores muito semelhantes aos valores cristãos mas sem a figura do Cristo, Nietzsche diz que:
O juízo moral pertence, como juízo religioso,
a um grau de ignorância em que a noção da realidade,
a distinção entre o real e o imaginário não existem,
de modo que em tal grau a palavra “verdade”
serve para expressar coisas que hoje chamamos imaginação.
e
[…]juízo moral tem comum com o juízo religioso
o crer em realidades que não existem.
Pode-se observar que Nietzsche tem igual dezprezo pela moralidade humanista ao que tem pela moralidade religiosa. É aí que entra a ideia de “transvaloração”, sobre a qual tratarei oportunamente.
Para finalizar, podemos concluir que em uma sociedade nietzscheana as Torres Gêmeas ainda estariam de pé.
Ponto para o filósofo!
Créditos: Daiely Fanchin Link: A Filosofia do Martelo

Um comentário:

  1. Corrige lá em cima, na apresentação da página, a palavra ASA que está escrita com "Z"

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