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quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Capoeira não tem dono


A capoeira é uma arte de essência anarquista: é a ânsia de liberdade, é a ordem nascida do caos, é a pureza dos gestos, o grito do guerreiro, é fora de padrões. O capoeirista não é padronizado; nem governado, nem defensor de regras opressoras da criatividade individual.

A capoeira genuína, sem sombra de duvida, é aquela praticada com corpo e alma, sem o desejo bestial dehumilhar e vencer o mundo todo, mas de vencer a si mesmo e os obstáculos que a vida impõe.

O capoeirista, esse anarquista de coração e alma, não é como um lutador de boxe ou caratê; pois não segue padrões dados. O capoeirista joga capoeira e seu interesse primeiro é a capoeira, antes de mais nada. Quem ama grupo de capoeira não tem espaço para amar a capoeira, pois já hierarquizou o grupo por cima da capoeira; a capoeira está alem de grupos e mestres. Quando o nome do grupo vier antes da capoeira, então o abadá já pode ser pendurado, pois o capoeirista já moreu.

Muitos dizem, e isso é bem comum ouvir, que é somente o seu grupo que possui a verdadeira capoeira; mas se quer notam que a capoeira é livre e não tem dono. Dizer que a capoeira verdadeira pertence a um grupo é uma tentativa insana de monopolizar a capoeira, e quem é capoeirista de verdade sabe que a capoeira não é produto para possuir dono.

Nos dias de hoje - e isso é bem irônico - a capoeira tem virado produto, ou seja, justamente aquilo que ela jamais deveria ser, pois sua essência é anarquista, e como tal é livre e invendável. Veja o que vem acontecendo: Os grupos tornaram-se empresas, a capoeira em produto, o capoeirista em cliente, os mestres em empresários. Os grupo, assim como as empresas, viraram concorrente e fazem um marketing danado para desvalorizar o concorrente e elevar a “sua” capoeira ao nível de melhor e mais verdadeira.

Em nossos dias são os pequenos grupos os que mantêm a essência da capoeira, pois os grandes grupos destruíram já destruíram e a transformaram em meros objetos a ser vendidos. Claro, isso sem generalizar, pois é possível encontrar grandes grupos que não se venderam a capoeira mercantil; mas são bem raros. Os grupos que fazem sua capoeira um ato de liberdade, são aqueles que não se orgulham de serem de um grupo, mas de serem capoeirista. E no final, ser capoeirista tem muita vantagem, pois você pode jogar em qualquer roda de qualquer grupo; pois o capoeirista que tem em sua essência a liberdade e humildade anárquica, não por acaso, não vê os outros como rivais a serem a eliminados, mas como irmãos de uma mesma arte.

E que seja dito mais uma vez: Antes de grupos deve vir à capoeira, a capoeira quer homens vivos e de espíritos dinâmicos e não clientes mesquinhos moldados pelo sistema escravocrata do século XXI.

By Jeferson Nascimento Machado


O Anarquista Raul Seixas e a Rede Globo de Televisão

Quando Raul Seixas gravou Carimbador Maluco em 1983 e participou do especial infantil Plunct-Plact-Zummm na Tv Globo , muita gente caiu de pau em cima dele. Principalmente quando ele ganhou o seu segundo disco de ouro, com o sucesso da música. Afinal de contas, o grande anarquista, o inimigo do Monstro Sist tinha finalmente se vendido ao Sistema! Lá estava ele, dançando fantasiado entre as criancinhas na Rede Globo . Ora, realmente, ninguém poderia associar aquilo ao que ele faria, por exemplo, dois anos depois na gravação Mixto Quente ( com x mesmo ), dia 22 de dezembro de 1985, na praia do Pepino, no Rio. No Mixto ele voltou a ser o Raul tradicional: entrou bêbado, esculhambou com todo mundo, cantou somente trechos inaproveitáveis de suas músicas mais censuradas (como Mamãe Eu não Queria) e impossibilitou sua participação no especial de Natal que a Globo havia preparado para aquele ano! ( Ninguém ficou sabendo porque Raul não apareceu, apesar da Globo ter anunciado o programa durante todo o mês de de apareceram bonitinhos. Mas ele, não... Nós estávamos no palco, durante a gravação: Paulo Coelho, Sylvio Passos, Edgar Oliveira e eu).
Foto: O Anarquista Raul Seixas e a Rede Globo de Televisão

Quando Raul Seixas gravou Carimbador Maluco em 1983 e participou do especial infantio Plunct-Plact-Zummm na Tv Globo , muita gente caiu de pau em cima dele. Principalmente quando ele ganhou o seu segundo disco de ouro, com o sucesso da música. Afinal de contas , o grande anarquista , o inimigo do Monstro Sist tinha finalmente se vendido ao Sistema! Lá estava ele , dançando fantasiado entre as criançinhas na Rede Globo . Ora , realmente , ninguém poderia associar aquilo ao que ele faria, por exemplo, dois anos depois na gravação Mixto Quente ( com x mesmo ) , dia 22 de dezembro de 1985, na praia do Pepino, no Rio. No Mixto ele voltou a ser o Raul tradicional: entrou bêbado, esculhambou com todo mundo, cantou somente trechos inaproveitáveis de suas músicas mais censuradas (como Mamãe Eu não Queria) e impossibilitou sua participação no especial de Natal que a Globo havia preparado para aquele ano! ( Ninguém ficou sabendo porque Raul não apareceu , apesar da Globo ter anunciado o programa durante todo o mês de de apareceram bonitinhos. Mas ele , não... Nós estávamos no palco, durante a gravação: Paulo Coelho, Sylvio Passos , Edgar Oliveira e eu).

No entanto , em 1983 acompanhamentos calados a polêmica do Carimbador Maluco. Calados e emocionados . Simplesmente porque havíamos sacado a grande jogada dele! Um fantástico recado prá criançada! Um recado anarquista , do maior dos anarquistas , o chamado Pai de todos nós : Proudhon - o mesmo que disputava com Karl Marx nos debates da I Internacional. Transcrevemos o texto de Proudhon, de onde Raul retirou a idéia da música. Observem o Ritmo do texto. Observem a Força da revolta de um ser oprimido, violentado e explorado. Observem uma das fontes de onde vem o sucesso e o segundo disco de ouro do Carimbador Maluco . Ser governado é:

Ser guardado à vista , inspecionado , espionado , dirigido , legislado , regulamentado , porqueado , endoutrinado, predicado , controlado , calculado , apreciado , censurado , comandado , por seres que não têm nem o título , nem a ciência , nem a virtude (...). Ser governado é ser , a cada operação, a cada transação, a cada movimento , notado , registrado , recenseado , tarifado , selado , medido, cotado , avaliado , patenteado , licenceado, autorizado, rotulado , admoestado, impedido, reformado, reenviado, corrigido. É, sob o pretexto da utilidade pública e em nome do interesse geral, ser submetido à contribuação, utilizado, resgatado, explorado . monopolizado, extorquido, prssionado , mistificado, roubado, e depois , à menor resistência, à primeira palavra de queixa, reprimido, multado , vilipendiado , vexado, acossado, maltratado, espancado , desarmado , garroteado , aprisionado , fuzilado , metralhado , julgado , condenado , deportado , sacrificado , vendido , traído e , no máximo grau , jogado , ridicularizado , ultrajado , desonrado. Eis o governo eis a justiça , eis a sua moral!

Sim , tem que ser selado, registrado , carimbado , avaliado , rotulado , se quiser voar. Prá a taxa é alta . Pro Sol identidade. Mas já pro seu foguete viajar pelo universo é preciso meu carimbo dando o Sim , Sim , Sim. Sem o meu Plunct-Plact-Zummm Não vai prá lugar nenhum! Será que Raul tinha se vendido ao Monstro Sist , ou simplesmente estava continuando a sua aventura na cidade de Thor? Quando se quer entrar num buraco de rato, de rato você tem que transar. Por tudo que vimos acreditamos na segunda opção .

By http://jayvaquer.rockin.net/raul/



No entanto, em 1983 acompanhamentos calados a polêmica do Carimbador Maluco. Calados e emocionados . Simplesmente porque havíamos sacado a grande jogada dele! Um fantástico recado pra criançada! Um recado anarquista , do maior dos anarquistas , o chamado Pai de todos nós : Proudhon - o mesmo que disputava com Karl Marx nos debates da I Internacional. Transcrevemos o texto de Proudhon, de onde Raul retirou a ideia da música. Observem o Ritmo do texto. Observem a Força da revolta de um ser oprimido, violentado e explorado. Observem uma das fontes de onde vem o sucesso e o segundo disco de ouro do Carimbador Maluco . Ser governado é:

Ser guardado à vista, inspecionado, espionado, dirigido, legislado, regulamentado, parqueado, endoutrinado, predicado , controlado , calculado, apreciado, censurado, comandado, por seres que não têm nem o título, nem a ciência, nem a virtude (...). Ser governado é ser, a cada operação, a cada transação, a cada movimento, notado, registrado, recenseado, tarifado, selado, medido, cotado, avaliado, patenteado, licenciado, autorizado, rotulado, admoestado, impedido, reformado, reenviado, corrigido. É, sob o pretexto da utilidade pública e em nome do interesse geral, ser submetido à contribuição, utilizado, resgatado, explorado . monopolizado, extorquido, pressionado, mistificado, roubado, e depois , à menor resistência, à primeira palavra de queixa, reprimido, multado, vilipendiado, vexado, acossado, maltratado, espancado, desarmado, garroteado, aprisionado, fuzilado, metralhado, julgado, condenado, deportado, sacrificado, vendido, traído e, no máximo grau, jogado, ridicularizado, ultrajado, desonrado. Eis o governo eis a justiça, eis a sua moral!

Sim, tem que ser selado, registrado, carimbado, avaliado, rotulado, se quiser voar. Prá a taxa é alta . Pro Sol identidade. Mas já pro seu foguete viajar pelo universo é preciso meu carimbo dando o Sim, Sim, Sim. Sem o meu Plunct-Plact-Zummm Não vai prá lugar nenhum! Será que Raul tinha se vendido ao Monstro Sist, ou simplesmente estava continuando a sua aventura na cidade de Thor? Quando se quer entrar num buraco de rato, de rato você tem que transar. Por tudo que vimos acreditamos na segunda opção .

"Ivo viu a uva"


"Ivo viu a uva", ensinavam os manuais de alfabetização. Mas o professor Paulo Freire, com o seu método de alfabetizar conscientizando, fez adultos e crianças, no Brasil e na Guiné-Bissau, na Índia e na Nicarágua, descobrirem que Ivo não viu apenas com os olhos. Viu também com a mente e se perguntou se uva é natureza ou cultura.

Ivo viu que a fruta não resulta do trabalho humano. ÉCriação, é natureza. Paulo Freire ensinou a Ivo que semear uva é ação humana na e sobre a natureza. É a mão, multiferramenta, despertando as potencialidades do fruto. Assim como o próprio ser humano foi semeado pela natureza em anos e anos de evolução do Cosmo.

Colher a uva, esmagá-la e transformá-la em vinho é cultura, assinalou Paulo Freire. O trabalho humaniza a natureza e, ao realizá-lo o homem e a mulher se humanizam. Trabalho que instaura o nó de relações, a vida social. Graças ao professor, que iniciou sua pedagogia revolucionária com trabalhadores do SESI de Pernambuco, Ivo viu também que a uva é colhida por bóia-frias, que ganham pouco, e comercializada por atravessadores, que ganham melhor.

Ivo aprendeu com Paulo que, mesmo sem ainda saber ler, ele não é uma pessoa ignorante. Antes de aprender as letras, Ivo sabia erguer uma casa, tijolo a tijolo. O médico, o advogado ou o dentista, com todo o seu estudo, não era capaz de construir como Ivo. Paulo Freire ensinou a Ivo que não existe ninguém mais culto do que o outro, existem culturas paralelas, distintas, que se complementam na vida social.

Ivo viu a uva e Paulo Freire mostrou-lhe os cachos, a parreira, a plantação inteira. Ensinou a Ivo que a leitura de um texto é tanto melhor compreendida quanto mais se insere o texto no contexto do autor e do leitor. É dessa relação dialógica entre texto e contexto do autor e do leitor. É dessa relação dialógica entre texto e contexto que Ivo extrai o pretexto para agir. No início e no fim do aprendizado é a práxis de Ivo que importa. Práxis-teoria-práxis, num processo indutivo que torna o educando sujeito histórico.

Ivo viu a uva e não viu a ave que, de cima, enxerga a parreira e não vê a uva. O que Ivo vê é diferente do que vê a ave. Assim, Paulo Freire ensinou a Ivo um princípio fundamental da epistemologia: a cabeça pensa onde os pés pisam. O mundo desigual pode ser lido pela ótica do opressor ou pela ótica do oprimido. Resulta uma leitura tão diferente uma da outra como entre a visão Ptolomeu, ao observar o sistema solar com os pés na Terra, e a de Copérnico, ao imaginar-se com os pés no Sol.

Agora Ivo vê a uva, a parreira e todas as relações sociais que fazem do fruto festa no cálice de vinho, mas já não vê Paulo Freire, que mergulhou no Amor na manhã de 2 de maio de 1997. Deixou-nos uma obra inestimável e um testemunho admirável de competência e coerência. 

By Frei Betto

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Resistência Coral, uma torcida consciente

 Ferroviário é dono da Vila Olímpica Elzir Cabral, mas joga no Presidente Vargas e no Castelão


Existe no Brasil uma torcida organizada que prega a paz nos estádios. Seus integrantes se recusam a pedir ingressos para dirigentes e entre eles é proibido ofender o adversário com termos machistas ou homofóbicos.

Essa é a Ultras Resistência Coral, torcida organizada do Ferroviário, time que é a terceira força da cidade de Fortaleza. Além do amor ao ‘Ferrão', os membros da Resistência Coral têm em comum a afinidade ideológica: todos são críticos ao sistema capitalista.

"Surpreendente, os cartolas gostam da nossa torcida. Apesar de estarmos contra o capitalismo e de alguns dos dirigentes serem empresários etc, eles compram nossas camisas pra ajudar, falam, ‘cara, a torcida de vocês deveria ser maior, é muito massa!", conta Leonardo Carneiro, sociólogo, professor da rede pública e apaixonado pelo Ferroviário.

Leonardo e boa parte dos outros 19 sócios da Resistência Coral já eram torcedores do clube antes de se tornarem militantes de esquerda. Com o passar do tempo, eles descobriram que a paixão pela equipe de futebol e a crença política tinham a mesma origem. Diferentemente de Ceará e Fortaleza, clubes de maior expressão do estado, o Ferroviário tem raízes operárias e foi fundado por funcionários da antiga Rede de Viação Cearense - RVC.

"Surgimos em 2005. Antes, estávamos juntos das organizadas, nos dávamos bem com elas, mas aos poucos fomos vendo cada vez mais cantos machistas, homofóbicos, incitação à violência gratuita. Queríamos formar uma torcida organizada que tivesse uma ideologia compatível à história do nosso time. É uma forma, inclusive, de retomar a tradição, a gente não inventou nada, foi a retomada da tradição da origem de classe do Ferroviário, que foi sendo esquecida com o fim da parceria com a RFFSA - Rede Ferroviária Federal", explica o estudante Pedro Mansueto, um dos fundadores do grupo.

"Do nosso conhecimento, a primeira torcida com esse viés que surgiu no Brasil foi a nossa. Depois, vieram outras que temos conhecimentos, existem iniciativas com Atlético-MG, Bahia, Palmeiras, Flamengo, São Paulo. Na Europa, futebol e política estão juntos há muito tempo. Se nós que pertencemos a um clube que está mal das pernas e não tem torcida tão numerosa conseguimos causar certa repercussão, fico pensando como seria se um Flamengo ou um Corinthians criasse uma torcida como essa e ganhasse corpo, o efeito que isso causaria", imagina Carneiro.

Terrorismo?

A relação com as velhas organizadas, como a Falange Coral, é amistosa e todos costumam apoiar o time juntos na arquibancada. Quando uma música de cunho preconceituoso é cantado, porém, parte dos torcedores se cala.

Faixas da Resistência Coral no CastelãoApesar de seguir o caminho oposto ao da violência entre organizadas, a Resistência Coral ainda assim enfrenta repressão por parte das forças policiais. Uma faixa com a frase ‘Nem guerra entre torcidas, nem paz entre classes' está proibida de entrar nos estádios cearenses.

"Diziam que a gente queria incitar a violência, não entendiam o conceito de luta de classes. Outras faixas que continham símbolos anarquistas ou a foice e o martelo eram proibidas, sobre faixas em apoio à resistência palestina, diziam que era terrorismo", diz Mansueto.

Eles tampouco estão livres da hostilidade dos rivais. Leonardo Carneiro se lembra do dia em que torcedores do Fortaleza tentaram roubar uma faixa. "Não dava pra partir pra cima porque estávamos em desvantagem numérica, mas salvamos a faixa. É tão difícil fazer um material desse, nossos fundos são tão escassos..."

Anti-Fifa

Sem auxílio dos cartolas, a Resistência Coral sobrevive da venda de material próprio e do auxílio dos sócios. Suas mensagens estão não só nos jogos, mas também em manifestações populares, inclusive contra a Fifa e a Copa do Mundo atualmente realizada no Brasil.

"Aqui há anarquistas, comunistas, cada um tem um pensamento diferente. Mas somos contra a Copa pela origem do nosso time, pelo que a gente defende, pelo conjunto do que esse evento trouxe de corrupção, desvio de dinheiro, superfaturamento, desapropriações", explica o recepcionista Francisco de Oliveira.

Leonardo Carneiro completa. "Estão querendo impor um padrão Fifa de torcedor. No Castelão, tiraram qualquer possiblidade de colocar faixa, tiraram as muretas, as grades, por mais que alguém queira colocar uma pequena bandeira, a policia diz que não. Não tem espaço para estar de pé, pulando. É a ideia do futebol moderno, higienizado. O preço dos ingressos e do que tem para ser consumido nos estádios impede o trabalhador de acompanhar seu time. A Copa do Mundo acentua esse processo."

"Amamos o futebol, mas odiamos essa forma como estão querendo impor o futebol a povos do mundo. Agora é a vez do Brasil. A Fifa pra gente representa um grande mal, é uma organização que está mais preocupada em obter ganhos financeiros do que permitir que esse esporte continue sendo acessível à maioria das pessoas."

 Créditos: Uol

terça-feira, 24 de junho de 2014

Christiania: a prova de que anarquia não é utopia

Christiania: A Lenda da Liberdade No coração gelado do capitalismo europeu, na fria Copenhagen, Dinamarca, uma comunidade de 10 mil pessoas vive num outro compasso. Cristiania não tem prefeito, não tem eleição e funciona sem governo, sem imposição de leis que controlem a organização social. A lenda da cidade-livre da Dinamarca é real: inspirada no Anarquismo, Christiania resiste há mais de 20 anos, inventando um jeito novo de conviver com os problemas da vida comunitária. Limpeza das ruas, rede de esgoto, manutenção dos serviços básicos, tudo é decidido e feito a partir de reuniões entre os moradores da cidade.



Eles se definem como uma comunidade ecologicamente orientada, com uma economia discreta e muita autogestão, sem hierarquia estabelecida e o máximo de liberdade e poder para o indivíduo. Uma verdadeira democracia popular direta, onde o bom senso e o diálogo substituem as leis. No Brasil, poucos conhecem a história da cidade-livre. O TESÃO vai contar, com exclusividade, a lenda da liberdade.

Christiania começou a escrever sua história em 1971. Foi a partir das idéias de um jornal alternativo, o Head Magazine, que um grupo de pessoas, de idades e classes sociais variadas, decidiu ocupar os barracos de uma área militar desativada na periferia de Copenhagen. Era o início de uma luta incansável contra o Estado. A polícia tentou várias vezes expulsar os invasores da área, mas sem sucesso. Christiania virou um problema político, sendo discutida no parlamento dinamarquês. A primeira vitória veio com o reconhecimento da cidade-livre como um "experimento social", em troca do pagamento das contas de luz e água, até então a cargo dos militares, proprietários da área. O Parlamento decidiu que o experimento Christiania continuaria até a conclusão de um concurso público destinado a encontrar usos para a área ocupada.

Em 73 houve troca de governo na Dinamarca e a situação de radicalizou: o plano agora era expulsar todos e fechar o local. O governo decretou que a área seria esvaziada até o dia 1º de abril de 1976. Na última hora, o Parlamento decidiu adiar o fechamento de Christiania. A população da cidade-livre tinha se mobilizado para o confronto com o Estado, mas a guerra não aconteceu. O dia 1º de abril tornou-se o dia de uma grande manifestação da Dinamarca Alternativa. Ao longo dos anos, a cidade-livre aprimorou sua autogestão: casa comunitária de banhos, creche e jardim de infância, coleta e reciclagem de lixo; equipes de ferreiros para fazer aquecedores a lenha de barris velhos, lojas e fábricas comunitárias de bicicletas. 
 
A década de 80 foi marcada pelas drogas. Em 82, o governo começou uma campanha difamatória contra Christiania: a cidade-livre era considerada o centro das drogas do Norte da Europa e a raiz de muitos males. A comunidade teve então que organizar programas de recuperação de drogados e expulsar comerciantes de drogas pesadas, como a heroína. O mercado de haxixe continua funcionando normalmente. O governo dinamarquês nunca deixou Christiania em paz, Vários planos foram elaborados visando a "normalização e legalização" da área.

Em janeiro de 92, finalmente um acordo foi assinado. Christiania já tinha mais de vinte anos de independência e provara ao mundo que é possível viver em liberdade. Mesmo com o acordo, o governo ainda tenta controlar a cidade-livre. A resposta veio no ano passado, com o lançamento do Plano Verde, onde os moradores de Christiania expressam sua visão de futuro e que rumos tomar. A lenda de Christiania continua sendo escrita.

 
Christiania: uma cidade sem governo


Christiania II: Uma Cidade sem Governo Christiania tem provado ao mundo que é possível viver numa sociedade sem autoridade constituída, sem delegação de poder através de mandatos e eleições. A cidade-livre da Dinamarca criou um experimento social definitivo contra a idéia dominante de que a humanidade se auto-destruirá se não existir um controle sobre a liberdade individual. 
 
Os habitantes de Christiania decidiram correr o risco de andar na contra-mão da história. Para eles, o governo, seja lá qual for, e seus mecanismos de administração pública são sinônimos de burocracia, abuso de poder e corrupção. 
 
Vivendo sem a necessidade de leis que controlem a organização social, cada morador da cidade livre tem que fazer sua parte enquanto cidadão e confiar que todos farão o mesmo. É uma nova ética de convivência, baseada na honestidade e na solidariedade. 
 
Em 23 anos de existência, a cidade-livre sempre esteve associada a rebelião contra a ordem estabelecida e experimentando novos meios de democracia e formas de autogestão da administração pública. Christiania se organiza em vários conselhos, onde todos os moradores têm direito a opinar e discutir os problemas comunitários. As decisões não são feitas por votação, mas sim através do consenso. Isso significa que não é a maioria que decide e sim que todos tem que estar de acordo com as decisões tomadas nas reuniões. Às vezes, contam-se os votos somente para se ter uma idéia mais clara das opiniões, mas essas votações não tem nenhum significado deliberativo, não contam como uma solução para os problemas da comunidade. Christiania é dividida em 12 áreas, cada uma administrada pelos seus moradores, para facilitar o funcionamento dos serviços básicos. As decisões tomadas sempre por consenso podem parecer difíceis para nós, brasileiros acostumados ao poder da maioria sobre a minoria (pelo menos, é assim que se justificam os defensores das eleições). 
 
Mas para os habitantes da cidade-livre, o consenso só é impossível quando existe autoritarismo, quando alguém tenta impor uma opinião sem dar abertura para que outras idéias apareçam e até prevaleçam como melhor solução. A experiência tem ensinado aos moradores de Christiania que cada reunião deve discutir só um assunto, principalmente na Reunião Comum, que decide sobre os problemas mais importantes da comunidade. E, contrariando o pessimismo dos que não conseguem imaginar uma vida sem governo institucional, a utopia está dando certo: a vida comunitária de Christiania preserva a liberdade individual e constrói uma eficiente dinâmica de relacionamento social, livre do autoritarismo e da submissão. A cidade-livre vive o anarquismo aqui e agora.

 
Ação direta

 
Os moradores da Christiania fazem questão de ser uma pedra no sapato do capitalismo. Eles não se contentam apenas em incomodar os valores tradicionais da sociedade européia com a vida alternativa que levam. Christiania também desenvolve várias atividades com o objetivo de contestar o sistema capitalista e divulgar as idéias anarquistas.

Durante os primeiros anos, a cidade-livre se tornou conhecida por suas ações no teatro e na política. E quem conseguiu maior sucesso nessa área foi o grupo Solvognen. Uma de suas ações diretas mais famosas foi em 1973, quando a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), uma espécie de braço armado dos Estados Unidos na Europa, realizou um encontro de cúpula em Copenhagen. Inspirados no programa de rádio "Guerra dos Mundos" de Orson Welles, que simulou uma invasão de marcianos colocando em pânico a população norte-americana na década de 40, centenas de pessoas, lideradas pelo grupo de teatro de Christiania, fizeram parecer que um exército da OTAN tinha ocupado a Rádio Dinamarca e outros pontos estratégicos da cidade. A impressão que se tinha era que a Dinamarca estava ocupada por forças estrangeiras. Durante várias horas, o país inteiro ficou em dúvida se a invasão era teatro ou realidade. A ação foi uma dura crítica a intervenção dos Estados Unidos na vida dos países europeus.

O Solvognen também usou a critividade para contestar o comércio da maior festa do cristianismo. Em 1974, o grupo organizou o primeiro Natal dos Pobres da Dinamarca. Milhares de presentes foram distribuídos por um batalhão de Papai Noéis. Detalhe: os presentes eram artigos roubados das lojas de Copenhagen. Resultado: foram todos presos, mas o escândalo ganhou as manchetes dos principais jornais da europa, com fotos de dezenas de Papais Noéis sendo carregados pela polícia. Até hoje o Natal dos Pobres continua sendo organizado como uma tradição e todo ano aproximadamente 2 mil pessoas recebem uma grande ceia em Christiania. Vote Nulo.


Fonte: http://www.nodo50.org/insurgentes/textos/autonomia/09christiania.htm

sábado, 3 de maio de 2014

Um gringo que viu o que os gringos não devem ver


Quase dois anos e meio atrás eu estava sonhando em cobrir a Copa do Mundo no Brasil. O melhor esporte do mundo em um país maravilhoso. Eu fiz um plano e fui estudar no Brasil, aprendi Português e estava preparado para voltar.

Voltei em setembro de 2013. O sonho seria cumprido. Mas hoje, dois meses antes da festa da Copa eu decidi que não vou continuar aqui. O sonho se transformou em um pesadelo.

Durante cinco meses fiquei documentando as consequências da Copa. Existem várias: remoções, forças armadas e PMs nas comunidades, corrupção, projetos sociais fechando. Eu descobri que todos os projetos e mudanças são por causa de pessoas como eu – um gringo e também uma parte da imprensa internacional. Eu sou um cara usado para impressionar.

Em Março, eu estive em Fortaleza para conhecer a cidade mais violenta a receber um jogo de Copa do Mundo até hoje. Falei com algumas pessoas que me colocaram em contato com crianças da rua e fiquei sabendo que algumas estão desaparecidas. Muitas vezes, são mortas quando estão dormindo a noite em área com muitos turistas. Por que? Para deixar a cidade limpa para os gringo e a imprensa internacional? Por causa de mim?

Em Fortaleza eu encontrei com Allison, 13 anos, que vive nas ruas da cidade. Um cara com uma vida muito difícil. Ele não tinha nada – só um pacote de amendoins. Quando nos encontramos ele me ofereceu tudo o que tinha, ou seja, os amendoins. Esse cara, que não tem nada, ofereceu a única coisa de valor que tinha para um gringo que carregava equipamentos de filmagem no valor de R$10.000 e uma Master Card no bolso. Incredível.

Mas a vida dele está em perigo por causa de pessoas como eu. Ele corre o risco de se tornar a próxima vítima da limpeza que acontece na cidade de Fortaleza.

Eu não posso cobrir esse evento depois de saber que o preço da Copa não só é o mais alto da historia em reais e centavos – também é um preço que eu estou convencido incluindo vidas das crianças.

Hoje, vou voltar para Dinamarca e não voltarei para o Brasil. Minha presença só está contribuindo para um desagradável show do Brasil. Um show, que eu dois anos e meio atrás estava sonhando em participar, mas hoje eu vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para criticar e focar no preço real da Copa do Mundo do Brasil.

Alguém quer dois ingressos para França – Equador no dia 25 de Junho?

Mikkel Jensen - jornalista independente do Dinamarca e correspondente em Rio de Janeiro.

E vamos de festa, povo imbituvense!


Não temos uma saúde que preste, não temos uma educação descente. Os pobres estão jogados a mercê da sorte. Faltam coisas básicas em Imbituva, dizem que não há dinheiro para nada, porém possuem dinheiro para fazer 4 dias de festa. Sim, QUATRO DIAS DE FESTA!.

Uma musica alta, incomodativa que dava para ouvir na Vila Rubinho, Vila Zezo e lugares mais afastados. O cidadão pobre trabalha (temos que trabalhar muito para sustentar toda á luxuria de uma meia dúzia de vadios da elite e conseguir uma merda de salário para sustentar a própria família); mesmo quando feriado, mas não dá para dormir com tremendo escândalo. Existem crianças recém nascidas, idosos que sofrem com tamanho escândalo. E diga-se de passagem, uma celebração a desgraça do povo, pois aqui não há o que comemorar, comemorar nossos o descaso da saúde?


Remédios não existem e quando existem não podem ser oferecidos, pois é proibido pela secretaria oferecer os remédios. Temos ótimas enfermeiras, bons médicos aqui, ao contrário do que alguns dizem, mas falta estruturas e liberdade para se fazer um bom trabalho. Mas eu peço para nossos amigos que trabalham na saúde que não se submetam as leis e regras de nosso município em certas horas, em dados momentos ouçam a lei moral, não se submetam a regras imorais e arrogantes quando o que está em questão são vidas. A vida é mais importante do que qualquer lei municipal criada por uma meia dúzia de vadios da elite, vadios que sobrevivem as nossas custa.

Estamos em uma época de grande descaso com dinheiro publico. O descaso que ocorre em Imbituva é uma realidade em todo o Brasil. Dinheiro que poderiam ser usado na saúde, educação, saneamento básico, etc.; são usados para grandes eventos que passaríamos muito bem sem, festa é alegria passageira. Não quero ver nosso dinheiro sendo jogado no lixo, devemos fazer alguma coisa ou festas são mais importantes do que nosso futuro?

Créditos: Imbituva

sábado, 8 de março de 2014

"Os Sons da Revolução"

A música “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré, virou referência para os movimentos sociais de 1968 contra a ditadura militar. O refrão “caminhando e cantando” foi quase o hino do movimento de oposição da época e é lembrado até hoje.

Em 2013, a onda de manifestações no país tem contornos bem diferentes das contra a ditadura, mas músicos da atualidade, como Tom Zé e Seu Jorge já fizeram suas próprias canções de protesto.
A música “Pra não dizer que não falei das flores”, composta e cantada por Vandré, foi em 1968 a canção de protesto, diria que um hino contra a ditadura. A ditadura, com toda aquela opressão, fez com que músicos de vários gêneros se manifestassem através da musica e isso acabou dando um resultado magnífico em termos de boas musicas, diria que foi uma época muito produtiva para a música cantada com o coração. Não somente na musica, mas a opressão acabou, por assim dizer, produzindo uma serie de trabalhos interessantes em variadas áreas. Mesmo com a proibição, com risco de serem torturados ou mortos, os rebeldes da época produziram belas peças teatrais, músicas, livros, quadros, danças entre outras coisas.
Com o passar do tempo, com a nova era da democracia e do livre mercado, a musica de protesto virou underground, coisa de punk e rappers. O punk e o Rap através de um discurso capitalista e de Estado viraram sinônimo de perversidade e imoralidade, ou seja, marginalizaram essas musicas e a excluíram do mercado fonográfico. Desse o mercado capitalista lançou o seu próprio ideal de musica perfeita, logicamente que o ideal de musica capitalista seria a musica capaz de alienar a população. O resultado disso foi o Funk carioca, sertanejo universitário, emocore, happy rock, entre outros lixos musicais. E enquanto a música de péssima qualidade foi fazendo sucesso os cantores de verdade foram sendo jogados no lixo. Desse modo o século XXI, por assim dizer, fez com que o artista de verdade fosse perdendo espaço e o lixo cultural foi tomando todas as mídias.
Mas, acredito eu, que com as ondas de protestos que começaram em 2013 e que continuam ocorrendo por todo o Brasil, a música boa está a ganhar vida novamente. Parece que a população ao se revoltar contra toda a engenharia macabra de nosso sistema percebeu que nossa geração não tinha musicas de protestos a ser entoadas nas ruas, senão as antigas, e as buscas por musicas de protestos acabaram por demonstrar que as músicas de protesto até existiam, mas estavam completamente esquecidas. E foi através de pesquisas na internet que músicas que estavam esquecidas reapareceram, os jovens que estavam a cultuar musicas de mercados começaram a ouvir musicas da contracultura. Apesar de ainda não haver uma enorme massa para levar à boa musica as nossas rádios novamente, de modo a ir contra o próprio sistema comercial de JABA praticado pelas rádios, eu sou bem otimista em relação ao retorno da boa cultura.
O protesto que vem ocorrendo em nosso país acabou inspirando alguns artistas a fazerem música de cunho critico social, e conseqüentemente vai estimular outros artistas a fazerem o mesmo. No quadro de músicos que estão produzindo canções de protestos, podemos citar Detonautas, Tom Zé, Leoni, Capital Inicial, Selvagens à Procura da Lei, Edu Krieger e Seu Jorge.
A banda Detonautas lançou a musica "Quem é você?", que havia sido composta em 2012. O vocalista, Tico Santa Cruz, afirmou que a música carrega ironias e críticas ácidas ao status quo. Segue o link da musica:
http://www.youtube.com/watch?v=z2z9JP6qcoQ

Leoni, que não ficaria de fora dessa, aparece com a música “As coisas Não Caem do Céu” de forma a apoiar e convidar todos para o protesto. Segue o link da musica:
http://www.youtube.com/watch?v=ylwxUGI6qnY

A Banda Capital Inicial, outra que jamais ficaria de fora, também lançou uma musica favorável aos movimentos ativistas. O nome da musica “Viva a Revolução” já indica o total apoio aos protestos, nela a Banda pede para a população desligar a TV e ir para rua. Segue o link da musica:
http://www.youtube.com/watch?v=nA_nJKKYcRo

A banda cearense, Selvagem à procura da Lei, também lançou um clipe com a musica “brasileiros” favorável aos protestos onde aparecem de caras pintadas relembrando o impeachment do presidente Collor de Melo, em 1992. Segue o link da musica:
http://www.youtube.com/watch?v=ymUZJlNtzSU

O carioca Edu Krieger lançou a musica “Gol da Vitória”, a música é em formato de cordel, onde relata os acontecimentos vividos por jovens que estão indo para protestar. Segue o Link da musica:
http://www.youtube.com/watch?v=c2I64_EBVXQ

Seu Jorge, um ícone da MPB, também entrou na dança em apoio aos protestos. Na musica “Chega” seu Jorge incentiva a população a ir à luta, pois não é só pelos vinte centavos. Segue o link da musica:
http://www.youtube.com/watch?v=GULdqoyycFI




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